quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TROPA DE ELITE

Saio hoje do cinema, após ver “Tropa de Elite”, e percebo que era justamente isso o que eu estava esperando para escrever aqui no blog. De alguma forma o filme me tocou, ao revelar-me uma nova realidade, que veio de encontro a minha.



Dentre tudo o que é mostrado no filme, não sei dizer ao certo o que mais me chocou. Não sei se foi o número e freqüência com que as cenas de violência se repetiam na tela, se foi a quantidade de sangue e as torturas expostas ou, ainda e talvez o mais importante, se foi a minha identificação com a classe média burguesa totalmente alienada e com uma pobre visão de mundo, retratada no filme.

O fato é que só tomamos conhecimento da situação das favelas quando algo nos é exposto através de filmes ou noticiários. É bom deixar claro que não quero que nenhum de nós vá para o Rio de Janeiro conhecer de perto as favelas, mas bem poderíamos compreender que muitos de nossos atos contribuem para a depredação da condição social que lá vigora.

“Quantas crianças ainda vão morrer na favela para que os playboys enrolem o seu baseado?” ou quantas manifestações e protestos contra a violência nas ruas e a favor de melhores condições de vida nós ainda faremos, se possuímos essa falsa moralidade e noção de que o que ocorre na favela acarreta problemas apenas para quem vive lá? Há muito tempo já sabemos que não é questão de escolha, e sim a falta dela, que faz com que moradores da favela entrem no mundo do tráfico e do crime. Não podemos generalizar, é claro, pois há histórias daqueles que nasceram na favela e nem por isso tornaram-se marginais. Porém, esses constituem exceção.

Ao ver a forma como a polícia age nas favelas também me questionei se não haveria uma outra, que fosse menos agressiva. “A polícia atira e depois vê quem é”, relata um dos moradores. Entretanto, não podemos esquecer que os policiais também são seres humanos, logo, têm medo de perder suas vidas no “campo de batalha”. Refiro-me a um campo de batalha, pois é assim que o filme retrata a “guerra” entre policiais e traficantes. Lá não há negociação, sabe-se como se entra, mas nunca como se sai. O treinamento também parece algo parecido com o de soldados que vão lutar em alguma guerra mundial. É possível que, daqui para frente, nossas guerras não sejam mais contra outros países, mas contra nós mesmos.

Notável é observar o papel desses policiais, que desconhecemos por completo e que lutam por nossa segurança, quando não se corrompem, infelizmente. Vale lembrar que o filme retrata o ano de 1997, e se já havia corrupção nessa época, o que dirá agora, que nossas instituições decaem cada vez mais. Poucos são aqueles a lutar, de fato, contra o sistema, pois ele se mostra bem articulado e de difícil rompimento.

Poucos, ou até mesmo nenhum, conseguem sair do BOPE sem ter se tornado um pouco marginal. O caso do Comandante Nascimento exemplifica isso muito bem: ele quer deixar o BOPE, pois se sente cansado de viver como policial e percebe que sua vida agora torna-se mais importante, já que sua mulher está esperando um filho. Suas perturbações são visíveis, e a de seus companheiros também. Predomina a idéia de se fazer justiça com as próprias mãos. É como se eles passassem por uma transformação e acabassem por se tornar “máquinas de guerra”.

Lamentável é perceber que, como em qualquer outra guerra, o que sobra é apenas a morte, de ambos os lados. Policiais perdem suas vidas, traficantes perdem suas vidas, e homens e mulheres inocentes, por estarem ali sabe-se lá por que, também perdem suas vidas. Pensar que poderíamos ser nós aquelas pessoas é assustador. Às vezes acho que nos diferenciamos delas apenas por uma mínima condição que é o fato de elas terem nascido nas favelas e nós não. A partir daí nossas vidas tomaram rumos diferentes, mas não tardará para que nossas realidades voltem a se encontrar fora das salas de cinema.


Até o próximo post, abraços

Mariana Bartz


4 Comentários:

Às 18 de outubro de 2007 às 22:30 , Blogger Jornalistas disse...

Finalmente um toque feminino neste blog!

 
Às 21 de outubro de 2007 às 18:17 , Blogger Ubitec disse...

Um bom texto de início!

Penso bem como tu: o que nos difere daquelas pobres pessoas é quase nada. Na verdade, algumas folhas de um papel verde (e no caso do Brasil, rosa e azul também) dizem quem será torturado, quem vai traficar, etc.

Êta nóis.

Gostei bastante do texto hein!

 
Às 27 de outubro de 2007 às 20:42 , Anonymous Anônimo disse...

Bom texto, Bartz.
Só uma pequena correção: nas favelas a exceção é o ladrão, é o bandido, é o traficante. Não o contrário.

Carol

 
Às 9 de novembro de 2007 às 20:55 , Blogger Mariana Bartz disse...

De fato, Carol, concordo contigo e acho agora que me equivoquei. Não sei se vale a justificativa, mas escrevi o texto logo depois que vi o filme.. heheh

Beijos!!

 

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