segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Nova Componente

Temos uma nova contribuinte para o Cidade Invisível!
Nossa colega de turma Mariana Bartz se ajunta ao grupo para tocar o blog. Isso já estava há algum tempo para acontecer, mas acabou (acabei) demorando e agora foi concretizado. Como podem ver, ela ainda não postou nada, mas aguardem. Ótimas contribuições estão por vir!
Dois toques:
- Meu próximo texto aqui vai ser sobre os contra-cotas da UFRGS. Só estou tentando me acalmar para conseguir escrever, depois de ter lido muita merda que esse pessoal escreveu.
- Dei uma olhada no título do rascunho do próximo texto do Guilherme, e a expectativa é grande! O tema é muito bom. Estou fazendo esta chamada sem consultá-lo, mas espero que ele não se importe. Aguardem!
***
Todos que tiverem oportunidade, olhem para a lua essa noite, se possível agora. Nunca a vi tão bonita. Pensei em fazer um exercício de descritivismo sobre ela, mas não rolou.

domingo, 23 de setembro de 2007

Post Rápido

Estava eu no no show do Aussie Pink Floyd terça, olhando aquele magnífico teatro do Bourbon Country (primeira vez que fui), quando pensei que talvez ele fosse um prenúncio do que aconteceu com os cinemas em Porto Alegre (não só aqui, em muitos outros lugares também, mas aqui é a maior referência). Estou falando do êxodo dos cinemas de calçada da cidade para os shoppings, onde, convenhamos, o romantismo é bem menor.


O lugar é muito bom, de alto bom gosto, espaçoso, acústica muito boa, essas coisas. Mas e se daqui a uns 30 anos não tivermos mais casas para shows na rua (ou de calçada, imitando a nomenclatura dos cinemas), somente dentro de shopping centers? Não quero ser alarmista nem nada. Também não acho que devamos fazer boicote ao Teatro do Bourbon. Se isso tiver que acontecer, vai acontecer. O exemplo em questão é apenas o primeiro caso. Pelo menos, o lugar é ótimo.

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Rapidamente:

- Melhor com ou sem o pacote da tia Yeda? Realmente não sei, mas o tal "novo jeito de governar" já foi pro saco.

- Comentários de dois contra-cotas em uma enquete da comunidade "contra as cotas da UFRGS":
Arielli
"COM CERTEZA AS COTAS VÃO AUMENTAR A DISCRIMINAÇÃO!Eu vo fika com um baita ódio de algum negro q tira a minha vaga! aauhuahh " (detalhe: esse racismo ainda não existe, ele está só esperando as cotas aparecerem)
­RICARDO DONELLI
"agente devia organizar alguma coisa, contra essa palhaçada! " (acho que ninguém avisou pra ele que no dia da votação ocorreram manifestações dos dois lados na reitoria. Ele podia ter ido lá expôr o ponto de vista, mas é mais legal ficar dormindo, pra reclamar depois)

domingo, 16 de setembro de 2007

Drops

Músicas que têm belas letras e combinam a sonoridade suave da melodia com a genialidade das palavras; baladas românticas com uma pitada de folk e pop contendo características do bom e velho rock and roll; isso é o que basicamente define o soft rock. Na década de 70, esse estilo musical fez com que despontasse artistas até hoje conhecidos por terem feito sucesso com músicas excepcionais. Como exemplos, temos "Tiny Dancer" do então sir Elton John, "If you leave me now" da Chicago e a famosa "You got a friend" de James Taylor.

O soft rock surgiu como uma reação ao então progresso do heavy metal, que abusava da distorção, da amplificação e de pedais de efeito. Para os românticos do soft, bastava um violão, por vezes um piano, um baixo e o acompanhamento suave da bateria para se fazer uma música de alta qualidade e que passasse uma grande carga de emoção.

Por volta de 1977 o soft rock se tornou tão popular que algumas bandas com estilos musicais diferentes mudaram sua ideologia e entraram na moda. Caso é o do Led Zeppelin, que entoa paixão na música "All My Love", e de Peter Frampton, roqueiro de primeira e também autor de "Show me the way", que abusou da melodia na bela "Baby i love your way".

Não é por acaso que as baladinhas de 70/80 ainda são lembradas hoje. A diversidade musical, devido à efervescência cultural da época, fez com que se fragmentasse o poder de bandas superstars. Muitos artistas novos surgiram em uma velocidade surpreendente, mostrando muito coisa boa e inovadora. As seleções foram feitas e o que resultou é a melhor demonstração de qualidade sonora das últimas décadas. Música boa não morre, por isso as baladas de 30 anos atrás ainda são ouvidas hoje, mesmo que seja no elevador ou na sala de espera do dentista. Para quem é fã desse estilo, como eu, nada melhor que escutar um elepê de James Taylor enquanto escreve uma matéria como essa, aliás, falando nisso, me dêem licença que eu vou virar o disco. Abraço para todos.





Thiago Couto






quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Eliana diz que não quer namorar ninguém!

Hoje, entrei no Terra para ver se tinha notícias sobre o julgamento de Renan Calheiros, e me deparei com centenas de links, todos contendo novas informações sobre assuntos diversos. Um desses links me chamou mais a atenção do que os outros (talvez por estar em letras garrafais vermelhas): IstoÉ Gente: "não quero namorar ninguém", diz Eliana. Mas não achei nada do Renan Calheiros. Isso pode parecer um problema especial do Terra, mas não é. É um problema de toda mídia, de todo o povo, e esse tipo de enfoque se dá em quase todos os meios de comunicação em massa no Brasil.

É um grande problema, pois a banalidade é cada vez mais a atração principal, e o público gosta. Quantas pessoas possuem TV por assinatura e acompanham "The OC", mas não vêem nenhum noticiário? Quantas pessoas sabem a história inteira de "Friends", mas não sabem nada da história do mensalão?

A internet tornou mais fácil o acesso à informação, mas o que as pessoas tem proucurado é se informar a respeito de coisas como o próximo BBB. Como jornalismo é negócio, as empresas jornalísticas oferecem cada vez mais notícias sobre o próximo BBB, e isso resulta num ciclo vicioso difícil de quebrar. Passa-se a exigir cada vez mais notícias por dia de um jornalista, e o conteúdo fica em segundo plano, tudo para crescer o bolo de informação, o leque de opções e conquistar mais leitores. Mas o verdadeiro resultado é a desinformação, a busca pelo fácil de ler e entender, o banal.

De quem é a culpa desse processo de alienação? Do povo, que não sabe exigir? Dos veículos, que não sabem oferecer temas importantes? Não sei bem, só sei que fico triste por assistir esse processo sem poder fazer nada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Alistamento

Dia 4, terça-feira última, às 7 horas e 20 minutos da manhã eu estava na rua coronel Bento Martins, esquina com a Siqueira Campos, pra cumprir mais uma etapa do martírio a que são sujeitos todos os homens brasileiros no ano em que completam 18 anos. Sim, o alistamento militar obrigatório. Uma linda demonstração de patriotismo (a solução para o Brasil, segundo alguns), sendo que esta etapa que descrevo, o juramento à bandeira, é a mais simbólica.


Não satisfeitos em te fazer perder compromissos e se deslocar até o centro antes das 8 da manhã, os militares ainda acham necessário dar uma dose extra-forte de chá-de-banco sem ao menos te dar o banco. Chego lá às 7:25 (era para ser às 8, mas cheguei antes para me livrar antes - ledo engano). Às 8 subimos para um ginásio e esperamos.


Tivemos de esperar sentados no chão até as 9, quando eles trouxeram os aparelhos de som e instrumentos (sim, porque eles não podem já deixar tudo separado de antemão, assim como não podem tocar as marchas no som, tem que ser tudo ao vivo). Aí eles nos posicionam de forma a satisfazer mais uma maldita mania de militar que é a ordem extrema. Não satisfeitos somente com filas, eles têm que te fazer calcular a distância lateral e frontal entre ti e o cara da frente e o do lado, então contam o número ideal de tábuas entre as filas e depois organizam as filas cabeça à cabeça e os excedentes são posicionados em outras filas. Mais uns 30 minutos nisso. O detalhismo constante é extremamente irritante. É impressionante perceber como eles simplesmente pensam que ninguém tem mais nenhum compromisso, trabalho, colégio, faculdade, nada. Todo mundo tem a manhã toda disponível.


A coisa que mais me ofende é a incapacidade de perceber que os jovens que estão se alistando são civis, e a maioria não quer deixar de ser. Todos são tratados como recrutas, recebem comandos como se fossem recrutas, e isso é um desrespeito horrível. Isso se percebe tanto em pequenas (por exemplo, chamar os jovens de "agrupamento") como em grandes demonstrações (por exemplo, nos ensinar posições de "descansar" e "sentido"), assim como não se faz presente só nessa etapa, no exame médico é a mesma coisa, embora deva ficar claro que, como em qualquer lugar, existem profissionais e profissionais. Alguns militares me trataram de forma muito boa e respeitosa. O problema é o processo como um todo.


Depois de uns 20 minutos de ensaios das posições de sentido e descansar e do juramento em si (primeiro tu faz todo o juramento ensaiando, é bom aproveitar pra ver o que tu tá sendo obrigado a jurar), vem o definitivo. Um parênteses: é interessante de notar que o exército se mostra um pouco misógino, na medida em que só homens são obrigados a fazer juramento e a servir. Mulheres não devem ser patriotas? Mas esse é dos males o menor.
Uma das coisas que tu juras é que vais defender com a própria a vida a tua pátria, se necessário. Que coisa linda isso. Morrer matando pessoas que nem sabem porque estão lutando, que são pessoas iguais a ti, mas nasceram em outro lugar. É disso que nós precisamos mesmo, patriotismo. Não sei por que a violência anda tão alta no Brasil, afinal todos os jovens juram à bandeira. Não deve ser a má distribuição de renda e anos de políticas direcionadas às elites, não não. Isso é papo de anarquista. O que falta é amor à pátria. Como querem que exista paz entre as nações se nas bases de tudo já te é ensinado que a tua pátria é melhor que as outras, e que tu deves matar e morrer em favor dela, e danem-se as outras pessoas e pensamentos em contrário?
Se querem mesmo defender o Brasil, poderiam fazer alistamento voluntário, ganhar o tempo que hoje é perdido com toda essa incomodação e fazer algo de útil. Na maior parte do tempo, porém, eles preferem perpetuar a amada burocracia militar e dar ordens a torto e a direito.
Tem gente que acredita que se o mendigo amar sua pátria, talvez consiga algo para comer. Que o amor à bandeira pode fazer o tráfico parar. Que se a criança que trabalha 14 horas por dia cortando cana souber o hino nacional de cor, talvez consiga um futuro melhor. No dia em que soubermos romper as fronteiras do nacionalismo e ufanismo infantis (não devem ser confundidos com cultura e tradições nacionais e locais), também romperemos fronteiras de solidariedade e amor ao próximo, e veremos que somos todos, afinal, humanos.

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terça-feira, 4 de setembro de 2007

O alter ego de Freud

São poucos os que conhecem o homem que o grande criador da Psicanálise Moderna considerava como seu outro eu. Louco, maníaco e drogado, Wilhelm Fliess foi por anos um grande amigo de Freud e acabou por ser responsável pela criação de teses como a bissexualidade, repetição de ciclos e modelo de deslocamento.

Quando ambos se encontraram, no ano de 1887, por intermédio do médico e também grande amigo de Freud, Josef Breuer, ficou claro que uma ligação de amizade unia-os. O pai da psicanálise supunha em Fliess um saber e conhecimento, e assim também pensava Wilhelm sobre Freud. Desse ano até 1904, os dois trocaram correspondências que ficaram famosas pelo caráter histórico para a área psíquica. Nelas, Sigmund conseguiu fazer uma auto-análise, começando a interpretar seus sonhos e narrando confissões que remetiam à sua infância. A partir disso, formula o Complexo de Édipo e logo em seguida, em 1900, lança sua obra-prima: “A Interpretação dos Sonhos”.

Fliess era um alemão lunático que tinha mania pelo estudo do nariz humano. Segundo ele, os órgãos sexuais teriam as mesmas estruturas que a região nasal, e todos as doenças e problemas psíquicos eram relacionados a ela. Por um tempo, Freud, na situação transferencial em que se encontrava com o amigo através das cartas, acreditou e admirou as idéias delirantes de Fliess. Isso resultou em um famoso caso em que ele pediu para o amigo operar uma antiga paciente, Emma Eckstein, que era considerada como umas das tantas mulheres histéricas da época. Fliess fez uma cirurgia em seu nariz e acabou por quase matar a mulher quando, quinze dias depois, foi achado meio metro de gaze dentro de sua cabeça.



Outra de suas teorias era a de que todos os seres do planeta, inclusive plantas e animais, eram regidos por um período de ciclos, no caso da mulher isso seria representado pela menstruação, que duraria 28 dias, e nos homens esse período seria menor, de apenas 23 dias. Ainda mais: dizia que em determinado dia, quando os ciclos estavam no nadir, as probabilidades de se ter uma doença era muito maior do que nos outros. Sem comprovação, essa teoria foi por muitos aceitas e para tantos outros considerada apenas como superstição.

Sua relação com seu amigo Freud acaba no ano de 1900, quando escreve: “Percebi em Freud uma animosidade pessoal contra mim que provinha da inveja(...)Afastei-me dele discretamente e abandonei a nossa correspondência regular. Desde então nada mais ele soube de mim”. Os motivos de tal afastamento também foram agravados pela briga que ambos tiveram. Fliess criou a teoria da bissexualidade e Freud inteligentemente se apropriou dela dizendo que era sua. Nas cartas que os dois trocavam ficava claro que a teoria era fliessiana, e por isso Freud queimou grande parte delas, e as que sobraram ficaram com a mulher de Fliess, Ida, que as vendeu para um colecionador. Em uma correspondência para ela, logo depois de seu marido morrer, Sigmund dizia que era para ela devolver as cartas que ambos trocaram ou que pelo menos as protegesse de qualquer utilização pública.


Mesmo com a separação, Fliess continuou com sua neurose por nariz. Experimentava em si mesmo os efeitos da cocaína em determinadas regiões nasais. Aplicava manualmente agulhas com a droga para ver os resultados obtidos. Logo depois que rompeu com Freud, Fliess caiu no anonimato e foi esquecido pela página da História. Morreu vítima de overdose de em 13 de outubro de 1928.
Thiago Couto

sábado, 1 de setembro de 2007

Leituras

Terminei de ler semana passada "Sobre a Televisão", do sociólogo francês Pierre Bourdieu, um best-seller na França (o livro, não o autor).

O Bourdieu gosta de bater na tecla de enfrentar o neoliberalismo e a ordem ideológica vigente, constantemente legitimada pela mídia em geral (muitas vezes, sem o próprio jornalista perceber seu papel nesse círculo). O livro, como diz o título, fala sobre a dominação midiática no campo televisivo jornalístico, mas também entra no meio dos jornais impressos.

É muito bom, recomendo a todos. É bem requisitado também, na biblioteca da PUC tem 14 exemplares e eu ainda tive que reservar pra poder pegar, mas vale a pena, as análises do autor são muito boas.

Nenhum estudante de jornalismo devia sair do curso sem ler obras como essa, sem perceber o domínio que é exercido nos meios de comunicação. Um jornalista tem que saber o meio onde está trabalhando, o que acontece em volta. Quarta-feira passada, na aula de História do Jornalismo, o professor falou sobre a atual avalanche de informações, a "desinformação por excesso". Um processo muito complicado de ser revertido, com certeza. Ele falava sobre o papel de cada um de nós nisso, sobre a importância de não tentar mudar sozinho um movimento social, mas de pensar em seu próprio trabalho como parte de um todo, e, esse sim, tentar melhorar e mudar. É claro que ninguém prestava atenção, todo mundo guardava os materiais, decerto pensando "que merda, esse cara não pára de fala, quero ir pra casa e almoçar".

Dos que estavam na sala, provavelmente uns 5, 6, 7 (de 40) tiveram noção da abrangência do discurso, da sua importância. Porque o que ele dizia se aplicava em muitos casos. Na dita imparcialidade do jornalismo, por exemplo. Atualmente, muitos jornalistas difundem ideologias (de forma imperceptível para muitos) mesmo sem concordar com elas (leiam "Sobre a Televisão"!). Inclusive, tem uma frase boa sobre isso num livro que estou lendo para essa mesma cadeira (do próprio professor, inclusive). Falando sobre o surgimento do jornalismo empresarial no Rio Grande do Sul (este mesmo, que perdura até hoje, dito nêutro). Lá pelas tantas, lê-se: "A nova empresa jornalística é uma agência política que apenas não expõe seu nome". Mas é melhor ir pra casa pensar, afinal, aquilo que o professor tentava dizer não parecia importante mesmo.
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Às vezes as pessoas acham que a vida, a política e as coisas são complicadas demais e simplificam um pouco todo o processo. Dicotomizar é mais fácil, sabe como é, um lado é bom e outro é mal e não existe espaço para discussões. Uma linha bem Veja. Olavo de Carvalho é um desses. Não é bom dar publicidade pra esse tipo de gente, o que ele mais quer é isso, mas foda-se.
Este é um texto de 2000, do tempo do governo Olívio aqui no RS. É destinado ao então governador, mas fala sobre esquerda e direita de um modo bem geral. Posto isso aqui de forma independente de questões partidárias, apenas pra dividir com as pessoas. Bem interessante, para ver como não se deve pensar em política, dividindo em "certo" e "errado", baseado em colocações infantis, desconsiderando inúmeros estudos e pensamentos de outros. E muita gente deve ler e pensar "nossa, mas que esclarecedor". Eu leio e penso: "como seria bom se fosse desse jeito". Seria tão mais fácil. Mas deixemos Olavo de Carvalho com suas fantasias.

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